Apenas por pessoas de alma já formada

sábado, 28 de maio de 2011

Quem não arrisca...

Pior sentimento é este que trago cá em meu peito. Vontade de te agarrar à força. Mesmo possuindo condições necessárias para tanto, não o faço, porque a coragem me deixa na mão. O que me invade é o medo que vai de encontro com o desejo em um entrave no qual nenhum dos dois se faz vencedor, já que ficamos apenas em meios termos. E a cena mais triste é esta que narro agora: eu, a única perdedora nessa estúpida luta, com algo parecido com infelicidade no rosto, presa entre os dois, de mãos metaforicamente atadas, sem o que quero ao meu alcance. Triste. Admito. E só o que faço é te observar de longe, onde não há batalha nenhuma a ser cravada. E o que ganho como prêmio? Nada. Não há prêmios para quem não arrisca.
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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tiquetaqueando

Não gostei que tenhas me avisado que virias, porque agora toda vez que alguém chega olho com esperança e retorno para onde estava com a cabeça baixa. Não era você. E nem sequer acredito que virás realmente a essa hora. Já está tão tarde!, mas a maldita esperança, aquela que morre por último, ainda existe cá no peito. Inutilmente repito: não gostei que tenhas me avisado que virias. E já nem preciso citar as razões novamente para ti. Mas quando é que disses que virias novamente mesmo?

Gente, o meu diário mudou de endereço e nome. Sintam-se à vontade, agora é ma petite.
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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Contrato

Sei que esse barco está mais para canoa e que, caso eu lhe largue em alto-mar, você não saberá em que direção ir; não porque você não é capaz, mas por puro medo já que você nunca soube nadar. Também sei que já ameacei abandonar o projeto várias vezes, mas olhe para mim. Eu já estou dentro do barco. Vê? Você só precisa alcançar a mão que estendo em sua direção. E por mais assustador que seja, a verdade é uma só, minha pequena: ainda que eu saiba nadar, quando eu cair em alto-mar sem você ao lado eu jamais irei longe. Você é meus braços e minhas pernas, pequena, como é que eu posso nadar sem braços e pernas? E mesmo que eu flutue, será de certo por já estar morto, já que o meu coração não estará mais batendo dentro de mim. Ele estará com você, meu amor. Ele sempre esteve nas suas mãos, desde o primeiro dia em que nos vimos. E o que eu lhe prometo aqui nessas letras de quem nunca fez caligrafia é que eu não vou abandonar esse barco, nem que ele fure (a gente reforma), porque é você a mulher que eu quero ter ao meu lado até nossos filhos já estarem crescidos. E quando eu estiver de bengala, é o seu rosto cheio de rugas que eu vou querer beijar, porque tudo que eu desejo é justamente isso: envelhecer ao seu lado, ouvindo essa sua risada que sempre acalma meu coração. Isso eu prometo.
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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Na dela

Já é tarde. Nós voltamos para meu apartamento. Não sei como devo me comportar. Tenho a impressão de que ele vai de novo me abandonar a qualquer momento. Tento voltar a dormir. Ele me impede. Ronca alto. Ah, Alê, você ainda não correu atrás de um médico para tentar curar essa apnéia? Levanto da cama, mas um braço me impede. A mesma mão que me puxou mais cedo na escada. "Aonde você pensa que está indo?", ele me pergunta com uma voz sonolenta. Indago se realmente está acordado. Respondo para meu possível sonâmbulo: "Vou pegar um copo d'água. Volta a dormir, meu bem." Ele se recusa. Agarra-me sem esforço e é quando por fim desabafo: "Alê, acho que você tem que ir embora." Ele congela. Não entende por que o expulso repentinamente dessa forma. "Por quê?", pergunta-me com uma voz que parte meu coração. "Porque eu não posso ficar aqui esperando e pensando e indagando quando você vai me abandonar de novo. Isso está tirando meu sono, Alexandre." Não sei de onde brotou tamanha sinceridade, mas pronto, falei. Ele me fita procurando as palavras certas para responder às verdades que joguei em sua cara. "E se eu prometer não partir?" Não acredito, embora queira com todas as forças. "Palavras são fáceis. Seus atos falam mais alto." Ele para de me fitar e começa a procurar algo no quarto escuro. Acende a luz. "O que você está fazendo?" A essa altura ele já está com uma caneta escrevendo sabe deus o quê. Estou intrigada. Ele surte esse efeito em mim. Não é a primeira vez. Como sempre me surpreende. Dá-me o pedaço de papel, o primeiro que viu em seu caminho. Tem escrito no topo: contrato. Em letras de forma, me faz uma promessa com sua assinatura logo embaixo: Alexandre Souza da Silva. Sei que não é válido, mas seu gesto me comove. Roubo-lhe um beijo, porque não tenho palavras para descrever o quanto suas bobeiras me fazem feliz. Estou feliz e é ele o motivo. Ele sempre foi a razão do sorriso em meu rosto. Estamos juntos, enfim, até o contrato rasgar ou queimar como resultado de um desentendimento qualquer entre nós. Mas, deus, que nada parecido ocorra. Deveria colocar algo sobre isso no contrato também. :)

(continua)
posted by mente inconstante at 07:43 1 comments

sábado, 14 de maio de 2011

Na escada

Eu sei que esse momento pode ser o último de nossa história. Ou não. Ela pode me ligar daqui a duas semanas, um mês, inventando uma desculpa qualquer sobre uma samba-canção que eu esqueci em seu quarto. Ou eu posso aparecer bêbado reclamando de alguma lâmina de barbear que deixei em seu banheiro (como se eu não pudesse comprar outra). Ou essa pode ser realmente a última troca de olhares entre duas pessoas que insistem em manter o orgulho em suas atitudes. Eu tenho plena consciência disso. Que continuar com as mãos enfiadas nesses bolsos me fará perder a garota que fica tão linda com os cabelos soltos. E exatamente por estar pensando tanto e nada fazendo, ela foge de meu silêncio. Volta para seu apartamento com os mesmos passos apressados com que desceu até mim. E eu corro atrás dela, antes que seja tarde demais. Puxo uma de suas mãos. Ela para. Então, é isso? Ela só veio devolver uma caixa de fósforos praticamente vazia? Pelo menos, ela teve uma desculpa. Eu nem isso tenho. Ou será que uso a desculpa esfarrapada da lâmina de barbear já agora? Ainda é muito cedo.


(continua)
posted by mente inconstante at 08:00 3 comments

terça-feira, 10 de maio de 2011

Na dele

Ela não fuma mais, nem pinta os olhos de preto ou as unhas de vermelho. Ela já não é mais a mesma. E enquanto desço as escadas do apartamento dela, eu me pergunto: por que diabos não consigo continuar ao seu lado? Só porque mudou para melhor? E sendo melhor para ela não é melhor para mim também? Tateio os bolsos à procura dos cigarros para acalmar os nervos já em frangalhos. Não encontro o isqueiro. Ouço passos apressados atrás de mim. Joga em minha direção uma caixa leve de fósforos. Diz-me com uma voz sem fôlego: "você esqueceu". Esqueci realmente. O quanto ela fica linda com os cabelos soltos desse jeito. Já não sei por que desço as escadas quando tudo que eu queria era isso: mergulhar nos olhos dela e me afogar, sem pretensões de voltar.



(continua)
posted by mente inconstante at 14:56 3 comments

sábado, 7 de maio de 2011

Na varanda

Dá-me um tempo para ir até a varanda observar o lago à minha frente, sentada com aquele prato rachado em repouso no colo, enquanto corto as cascas das pêras que desejei o dia inteiro. E por favor não me prive desse momento porque ele será a única felicidade curta que eu terei no dia de hoje, já que você mudou de ideia e resolveu ir embora. E se não houve medo antes, há agora, já que não possuo mais seus braços para me aparar caso eu venha a cair. Você finalmente fechou a porta.


(continua)


uma postagem sobre o dia das mães



posted by mente inconstante at 10:56 0 comments

quinta-feira, 5 de maio de 2011

No quarto

Ele dorme ao meu lado na cama. Acendo o cigarro. Que cigarro? Eu não fumo mais. É o costume desgraçado falando mais alto. Observo a muda que ele fez algumas horas atrás, jogada no canto do quarto com seus pertences reunidos de qualquer jeito. Vou em direção a ela e a desfaço. Quero acreditar que não terminamos e que tudo vai voltar a ser como era antes, mas meu silêncio é em vão, já que ele me interrompe durante. Acorda. E meu olhar agora é carregado de medo. Vazio de esperanças. O que ele dirá? Que foi só a nossa última transa? Ele me surpreende. Dá-me um beijo na nuca, abraçando minhas costas que é quando por fim respiro aliviada. Seu beijo e abraço me dão a certeza que preciso: sim, voltamos e nada mudou.



(continua)
posted by mente inconstante at 01:01 4 comments

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Na cozinha

Como é que você nunca aprendeu a fazer miojo? Isso só prova o quanto você precisa começar a viver sozinho longe da barra da saia da sua mãe. Vem cá. Sai do fogão. Eu faço isso para você, mas só hoje. Da próxima vez, você vai ter que tentar sozinho. Acontece que eu acabei de limpar as bocas do fogão e não quero que você suje tudo de novo. Aproveita e vai ali na geladeira. Pega uma gelada para gente. Só há uma, mas não tem problema, o que é meu, é seu. A gente divide. E fecha a varanda também. Já está começando a esfriar. Não, não me abraça agora. Eu estou toda suada da faxina que você interrompeu, lembra? O que você está fazendo? Não, não me levanta assim. Eu sou uma baleia fora d'água. Você não vai aguentar o meu peso. Para onde você está me carregando? Me coloca no chão, Alexandre! Ah, não, não me beija assim. Quer saber? Isso está bom demais. Não, não ouve nada do que digo. Só continua me beijando desse jeito que eu deixo a conversa de lado. :)


(continua)
posted by mente inconstante at 23:59 2 comments