Apenas por pessoas de alma já formada

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Distinto paralelo

Eles dividiam o mesmo carro, mas não eram conhecidos. Um era taxista e o outro apenas mais um cliente para aquele empregado da vida. Cada qual com suas próprias preocupações. O taxista põe para tocar sua música favorita, a fim de aliviar o estresse, tornar o trabalho menos insuportável, mas o cliente não gosta. Enquanto a música afasta o taxista de seus problemas, para o cliente só o aproxima de suas frustrações. Aquela música lembra ela. E a ela do cliente é diferente da ela do taxista. O taxista gosta de pensar nela, porque ela é a luz que ilumina seu caminho e o encoraja a seguir em frente. Já para o cliente, pensar nela (a sua ela) significa lembrar o término, tudo o que os levaram até aquele momento. O momento em que cada um vive sua vida separadamente. São duas pessoas em um mesmo carro, indo para um mesmo lugar, mas com tanto diferente. Eles não são iguais, mesmo que fossem gêmeos ou amigos. Ninguém é igual a ninguém. Nossos pensamentos nos tornam distintos. Nossas singularidades nos tornam iguais. Somos iguais no mesmo sentido: cada qual com seus próprios sentimentos e ideais.
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domingo, 29 de agosto de 2010

Pensamento vago

Cadê a folha que há pouco estava aqui? Não, dela certamente não gosto, mas e se outros viessem a dela gostar?
diariodeumafumante
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Dormente

A dor é insuportável, mas você não pede ajuda. Acha que pode aguentar mais um pouco. Até que o pouco se torna muito e o muito, tempo demais. Nós só pedimos ajuda quando remediar já não é mais possível. O sinal de alerta não adianta. A dor é ignorada. Mas se existe é por alguma razão. Nós sempre fingimos ser mais fortes do que realmente somos.
diariodeumafumante
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domingo, 22 de agosto de 2010

Reclamar, analisar, pensar um pouco só para não perder o costume

Não sei se crescer faz tão bem assim. Quantas pessoas não sentem falta de suas infâncias? Da época em que nossa maior preocupação era o que iríamos ganhar no dia das crianças. Quando nossos olhos ainda viam tudo ao nosso redor como novo e não como de costume. Às vezes, a gente cresce por fora, mas continua pequenino por dentro. Nós que éramos tão gigantescos em nosso interior. Ganância era uma palavra que não fazia parte de nossos dicionários, nem egoísmo ou maldade. O que pode haver de bom em uma palavra que tem mal no início? Não éramos juízes da vida alheia e não ansiávamos por uma vida melhor, porque nossa vida já era boa. Talvez não fosse boa, mas sentíamos que era e o que importa se aos olhos da sociedade não parecia ser? Éramos felizes e não é esse nosso principal objetivo? Sermos felizes? Nós crescemos, mas não sei se podemos dizer que evoluímos. Eu que nem consigo olhar para o mundo como é hoje e chamar isso de evolução. É um preço caro demais para tudo que nos deixou mais sedentários, pobres e doentes. Fica a reflexão.
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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Consulta

E eu lhe disse orgulhosa o quanto não doía. "Nada?", ele me perguntava. E com o orgulho estampado em minha face eu dizia: nada. E ele, ao invés de me parabenizar, me olhou com um ar preocupado. "Isso não é nada bom.". Eu não entendi. Não doía, porque era ruim, então? "Se não há dor, significa que já está morto." Ah, doutor, não me diga isso. E ele olhava para o buraco gigantesco em meu peito e divagava consigo mesmo. "Será que nem assim?" E cutucava, cutucava, cutucava. Nada. Meu coração não sentia uma só fisgada. "É, está definitivamente morto." Seu diagnóstico foi sucinto: "você não pode mais amar".
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terça-feira, 17 de agosto de 2010

And it makes no sense at all

A gente se reconhece de longe. Há o interesse. Meu perfume invade teus pulmões e você imediatamente procura por mim. Tua beleza atinge meus olhos e eu já não consigo mais parar de te observar. Há o desejo. Você me caça com suas retinas. Eu te enfeitiço com meu sorriso. Há a magia. E os olhos alheios encaram-nos furiosos. O que se passa, afinal, entre esses dois? Nada ocorre entre nós a não ser o desejo latente de concretizar uma atração que é visível até aos olhos dos outros. Seu corpo se aproxima do meu sem eu sequer perceber. Seus dedos acariciam meus cabelos. Penso ser uma mão amiga e, então, o susto, seguido de um frio na barriga: olá. Você sempre me assusta com seus cumprimentos out of sundely. “Tudo bom?”, você, que não era um simples amigo, me pergunta com um beijo no rosto. “Tudo ótimo”, é o que eu não respondo. Minha garganta estava de repente seca. Não consegui fonar palavra alguma. E agora que tua voz grave preenche meus ouvidos, você é tudo que eu consigo ouvir. Nada mais tem minha atenção. A não ser você e meu corpo dormente e o coração derretido e esse desejo entre nós que já sinto palpável no ar. Pego-o com as mãos e passo para você. Vem de mim para você. De você para mim. Ninguém o quer. Mentira, claro, porque nos queremos, mas olhos alheios impedem. Sei. Não precisa nem dizer em voz alta. Alguém te roubou de mim. Eu que te vi primeiro, mas nada fiz. Olhos alheios nos impedem. Olhos alheios te tem agora. Eu que queria você todinho só para mim, tenho apenas a promessa de um futuro que não vingou.
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domingo, 15 de agosto de 2010

Canto dos malditos na terra do nunca

Existem dois lados e o único que me interessa agora é onde estou nesse exato momento. O outro lado é terra alheia que em nada me agrada. Não vê o quanto é perigoso estabelecer residência aí? Não. Repito mais uma vez. Não quero largar minha segurança. Você acha que exagero? Não é exagero algum. É a mais pura verdade. Saia logo daí. Repito enquanto sei que ainda pode me ouvir. Porque haverá um momento em que seus ouvidos não mais funcionarão e você não ouvirá mais nada do que será dito. Terra dos cegos e surdos. O que você vê aí desse lado, afinal? Sim, sei. Nada na vida é feito só de coisas ruins. Mas para mim não vale à pena. Os pontos positivos não são nada na frente dos negativos. É, eu estou bem aqui. Longe da terra dos apaixonados, obrigada. Às vezes é bom permanecer segura assim.
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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Inauguro

Gente, o post de hoje é um convite. Quero que saibam que sigo e acompanho vários blogs que emanam talentos (mas não me atrevo a citá-los, porque são muitos. São pessoas que comentam, seguem e visitam minha cria toda vez que posto algo. A todos vocês, meu muito obrigada). No entanto, já há algum tempo, minha mente encarnou em um personagem que ganhou tanta força dentro de mim que foi inevitável: tive que criar outro site nesse gigante cyberespaço. O nome do blog é (não tenham preconceito) diário de uma fumante.
Viciei nessa irrealidade crua, repleta de palavras fáceis e sentimentos duros (pelo menos a mim) de engolir sem um pouco de água nos olhos.
"Sentimentos curtos e claros feito frases sem orações intercaladas." (Caio Fernando Abreu)
Mas não se enganem. Cá quem escreve não é Vanessa. É Juliana Biagi. E, por favor, não sejam severos demais. Já tenho esse blog como um filho e sua criação foi como todo parto: assim difícil. Não queria que essa história fosse mais um de meus projetos inacabados. Portanto, cá estou inaugurando meu mais novo espaço. Uma ideia que, enfim, ganha vida. Que fique bem claro: nunca fumei.
[Mais uma vez: diário de fumante. Fiquem à vontade. Críticas são sempre bem-vindas.] :)
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Presente

Pego minha mochila surrada. Não me importo com sua sujeira ou com seu tecido rasgado. Passo sua alça por cima de um de meus ombros e nem sequer percebo que os cadarços de meus tênis estão desamarrados. Bato a porta da frente, desço as escadas. Um, dois, três, quatro. Meus cabelos soltos. Acho melhor amarrá-los. Quando abro as portas do condomínio, meus olhos por reflexo se fecham. Sol forte demais para meus frágeis olhos. Droga! Que falta faz um óculos escuro agora. Por que diabos fui quebrar o meu? Já posso até ver meus olhos cheios de pés de galinha em um futuro bem próximo. Caminho em direção à parada de ônibus. O dia está claro, tão bom para uma praia! Tentação passa pela cabeça, mas não se aloja. Preciso manter o foco. Vejo pessoas no ônibus, arrumadas para irem a seus respectivos trabalhos, mas sei o que se passa por suas cabeças. Exatamente o que se passa pela minha: praia. Vontade de libertar-nos de nossos cotidianos para presentear-nos com um pouco de diversão, por favor. Todos anseiam por uma quebra de rotina. Eu, inclusive. Volto meus pensamentos para meu objetivo-mor. Desço daquele transporte coletivo e vejo sua casa. Uso as chaves roubadas de seu lar e abro os portões. Não entro em sua residência, porque não há necessidade. Permaneço no jardim. Pego na bolsa meu celular e ligo para a empresa que contratei, autorizando-os a virem. “Já podem chegar.” Sento no gramado com as pernas cruzadas, meus braços abraçando-as descompromissadamente. Aguardo ansiosa a chegada da equipe. Até que a campainha toca. São eles. Deixo-os entrar e eles fazem tudo como planejado. Deixam-no na garagem com uma grande fita vermelha em cima. As horas se passam. Volto a sentar no gramado com as pernas cruzadas, mas meus braços agora diferentemente da posição anterior, apóiam meu corpo. Este mesmo corpo que se inclina para trás para vê-lo melhor. O laço vermelho certamente dá outro impacto. Ele, então, chega e olha a surpresa extasiado. Eu levanto as pressas e, por fim, digo, feliz com sua reação (foi exatamente como previ, valeu o esforço):
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- Nosso primeiro carro, meu amor.
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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Briga

Você grita comigo e eu não deixo por menos. Respondo de volta e assim ficamos em uma batalha sangrenta para vermos quem tem o pulmão mais forte. Suas palavras me magoam. Minhas frases te ofendem. Partimos, então, um para cada direção. Eu bato a porta. Você insiste em dar a última palavra. Vá. Eu não me importo. Mas quando o sangue desce e cabeça esfria, percebemos o erro: nos amamos e não desejamos essa distância. Eu, então, te ligo. Quero me desculpar. Mas você não me atende. O nervosismo já começa a me contagiar. Tento mais uma vez. Nada. O que diabos você está fazendo para não atender minhas ligações? Não quero acreditar que ignora meus telefonemas propositalmente. Até que o telefone toca. Você retornando a ligação finalmente. Diz que está na frente de minha faculdade. Que quer conversar comigo pessoalmente e não por telefone. Eu, então, saio da sala de aula, pego o elevador e vou a seu encontro. Você já está parado na portaria me esperando. E a música começa a tocar em minha cabeça. Um piano embala a trilha sonora de nossa reconciliação. Nada além do piano. E você me olha com cara de arrependimento e eu devo olhar para você do mesmo jeito, porque também estou arrependida. Arrependida por ter brigado por tão estúpida besteira. O piano continua tocando cada vez mais lento. Eu me aproximo de você. Você toca minhas mãos, depois meu rosto. Nossa respiração acelera e o beijo iminente ocorre, casando perfeito com a música que termina exatamente agora, encerrando nossa estúpida discussão. Nós nos reconciliamos.
posted by mente inconstante at 13:07 2 comments