Apenas por pessoas de alma já formada

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Última chance

Ele iria partir e a vontade de dizer o que sentia, de repente, se libertava do orgulho que tão fortemente a prendia. Ele viajaria para longe e ela precisava (para evitar arrependimentos futuros) falar a ele que sempre o amara e que nunca disse em voz alta, porque era orgulhosa demais para ouvir um silêncio em resposta. A vontade, enfim, solta do orgulho, berrava alta qualquer coisa inaudível àqueles que nunca realmente amaram. Ela precisava externar seus sentimentos. Então, ligou, mas não conseguiu. Teria que fazer mais do que apenas ligar. Correu, então, à sua procura, mas nada achou, além da tristeza. Não era possível. Já teria partido? O desespero aumentava dentro de si. Ela precisava falar uma última vez que fosse com ele. Mover céus e montanhas não seria nada. A vontade era tamanha que nada seria demais para ela. Ela, por fim, conseguiu. Ela o encontrou antes que fosse tarde demais.
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- Ufa! Eu pensei que você já tivesse partido. – ela falou com alívio ao vê-lo à sua frente, sempre mais lindo do que sua memória era capaz de gravar.
- Partido? – ele a olhava confuso. – Como assim partido?
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- Olha, Alê. – ela começou seu discurso ensaiado, sem ao menos responder à pergunta que ele fez confuso a ela – A gente sempre foi muito amigo, mas agora eu não posso mais fazer isso. Ao menos agora, eu preciso ser sincera. Ainda que seja na sua despedida. Ainda que seja tarde demais, eu preciso falar. Caso contrário, o arrependimento dentro de mim será grande demais. Eu sei que nós temos pouco tempo também. Afinal, você vai partir quando? Daqui a cinco, seis dias?
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- Ah, a viagem. É disso que você está falando? V, eu não vou mais viajar. – ele disse calmo, ela congelou. Ele não viajaria mais? O que aconteceu com seus planos de morar fora? – Está tudo bem? – ele perguntou, depois de alguns segundos, preocupado com a expressão paralisada dela.
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- Não - ela respondeu ainda meio chocada – está tudo bem. Está tudo ótimo, actually. – quando ficava nervosa, ela misturava palavras em inglês e português, seu cérebro entrando em parafuso e sendo incapaz de fazer a tradução, mas ela não mentiu. Estava tudo mais que ótimo agora. Ele não viajaria mais, como ela podia não estar bem depois de saber disso?
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- Então, o que você tinha tão urgente assim para me falar? - ele interrompeu os pensamentos felizes dela.
- Ahn? – ela não entendeu sua pergunta.
- É que parecia que você ia falar me algo. É tão urgente assim que não podia ser pelo celular?
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Ah, sim. Ela iria falar algo e era mais do que urgente, mas agora não fazia mais sentido. Ele ficaria. Ali permaneceria por tempo indeterminado. Ele não iria mais embora e ela já não via mais sentido em sua declaração. O orgulho surgia novamente, trazendo o medo consigo também. E agora?
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- Ah, esquece. Não é nada. É que... eu... é... – ela precisava inventar uma desculpa plausível para o desespero apresentado há alguns segundos. Afinal, ela estava tão desesperada e ele não podia sequer desconfiar do que ela iria realmente falar. Ela não desejava mais externar seus sentimentos. E agora? O que poderia dizer a ele para encobrir a verdade sobre seus sentimentos não mais imediatos? – Então, é que... Ah, Alê, é que... eu... ia... é que eu ia pedir para você levar algumas coisinhas para alguns familiares que eu tenho lá, mas já que a viagem foi cancelada. – e ela não falou mais nada. Ela precisava da viagem. O orgulho voltou. Ela tinha tempo para se declarar agora. Quem sabe amanhã. Ela mais uma vez postergou.
posted by mente inconstante at 16:49

5 Comments:

ahh a paixão confude os pensamentos mesmo!!

Lindo texto!

Beijos

4 de janeiro de 2010 às 21:33  

Ah! Ela não podia ter perdido a chance de se declarar. Não podia mesmo!

Lindo texto, fiquei agoniada pra ler o fim, rs.

Beijo.

5 de janeiro de 2010 às 01:32  

Por que ela deixou passar essa oportunidade???
Amanhã pode ser tarde demais...
Fiquei triste por ela...
Mas amei o texto...

Bjs

5 de janeiro de 2010 às 09:09  

È tem certas coisas que só temos coragem de dizer quando é a última chance,seria na hora do desespero.Só essas horas conseguimos falar o que realemnte sentimos.

bjo

6 de janeiro de 2010 às 12:37  

Affs.. passo por isso há algum tempo! é complicado...
Adoro seus textos, me identifico muito!

beijos

8 de junho de 2010 às 16:51  

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