Apenas por pessoas de alma já formada
sexta-feira, 5 de março de 2010
Pesadelo
Ele sonhava todas as noites com o mesmo pesadelo. Aquele mesmo que o fazia acordar molhado de tanto suar, contorcendo-se na cama como uma criança clamando por ajuda. Faça a dor parar!
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Ele se arrumava impecavelmente. Colocava seu melhor paletó. Esperava por ela. Ela aparecia com uma mala na mão e um sorriso forçado no rosto. Eu vou voltar. Ele, de repente, não era mais ele. Era uma criança pequena, com lágrimas nos olhos. Por que você não quer me levar? Você não me ama? Mamãe, por que você não me quer mais? A criança se sentia como aquele mesmo brinquedo que teve que abandonar alguns anos atrás por não prestar mais. Estava quebrado e não servia mais para brincar. Agora era ele que estava quebrado também? Por isso ela o abandonava? Agora quem chorava era ela. Ela também chorava. Mamãe, por que você chora? Você se machucou? Também está sentindo a mesma dor no peito que eu agora sinto? Mamãe, fala comigo! Não me deixa aqui. Ela limpou as lágrimas do rosto e pediu para ele se arrumar. Ok. Você vai comigo, meu amor. Mas tem que trocar de roupa. Mamãe está toda arrumada, vê? Você também tem que estar. Não tenha pressa. Eu lhe espero. Eu não vou a lugar algum sem você. Ele sorriu. Iria embora com ela. Não importava para onde. Ele iria com ela. Ele se arrumou rápido, mas caprichosamente. Tinha que estar tão arrumado quanto sua mãe. Tão lindo quanto ela estava! De repente, voltou, gritando, preocupado. Mamãe, eu também tenho que levar minhas coisas! Meus brinquedos! E agora? Tem espaço na sua mala? Era uma criança. Para ele não importava roupas, mas, sim, seus brinquedos. Mamãe? Onde tem outra mala? Mamãe? Ela não estava mais na sala. Partiu. Sem ele. Eu não vou a lugar algum sem você. Pois foi. Aproveitou sua distração e saiu escondida, para bem longe dali. E ele correu. Tentou achá-la. Foi para a rua. Chorava, soluçava, gritava. Mamãe! Um carro quase o acertou. Crianças não lembram que tem que olhar para os lados antes de atravessar a rua. Ele só queria encontrá-la. A cena, de repente, rebobina. Volta no tempo. Ele não é mais a criança abandonada pela mãe. Ele é o mesmo adulto de hoje. Arrumado com seu melhor paletó. Esperando por uma mulher. Ela aparece com uma mala na mão. A mesma mulher. Ou outra diferente. Não importa. O que ele quer é a mala. Não ela. Ele corre desesperadamente em direção a ela. Tenta entrar na mala que ela segura em suas mãos, mas não consegue. Ela é muito pequena para ele que é tão grande. Se ao menos ainda fosse a criança de alguns minutos atrás, bastaria jogar as roupas que facilmente entraria. Aquela mala não levava nada dentro, mas ainda assim não o suportava. A mulher, então, gritava. Não dá! Não adianta tentar! Mas ele não a ouvia. Tem que dar! Eu tenho que entrar! Eu não posso ser abandonado novamente! E, de repente, ele abria os olhos. Acordava do pesadelo com o corpo suado. Suas roupas molhadas.
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Ele sentia a mesma dor no peito que a criança mencionou. Nem vestido com seu melhor paletó, ela o quis. Nem deu tempo de dizer nada a ela. Talvez já esperasse o que sempre ocorria. Ela sempre o abandonava, mesmo vestido com seu melhor traje. Ele não foi o bastante para ela. Sabia disso. Estava quebrado. Era igual ao brinquedo quebrado que abandonara quando criança. Independente do que fazia, ela sempre partia sozinha. Por que você não quer me levar? Você não me ama? Mamãe, por que você não me quer mais?
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E ela chorava todos os dias. O mesmo pesadelo que o atormentava também a dilacerava. Ela também o tinha todas as noites e mesmo assim nunca voltara para pedir perdão. Ela não o merecera. Ela o enganou. Traumatizou seu coração. Ela não nasceu para ser mãe.
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Ele se arrumava impecavelmente. Colocava seu melhor paletó. Esperava por ela. Ela aparecia com uma mala na mão e um sorriso forçado no rosto. Eu vou voltar. Ele, de repente, não era mais ele. Era uma criança pequena, com lágrimas nos olhos. Por que você não quer me levar? Você não me ama? Mamãe, por que você não me quer mais? A criança se sentia como aquele mesmo brinquedo que teve que abandonar alguns anos atrás por não prestar mais. Estava quebrado e não servia mais para brincar. Agora era ele que estava quebrado também? Por isso ela o abandonava? Agora quem chorava era ela. Ela também chorava. Mamãe, por que você chora? Você se machucou? Também está sentindo a mesma dor no peito que eu agora sinto? Mamãe, fala comigo! Não me deixa aqui. Ela limpou as lágrimas do rosto e pediu para ele se arrumar. Ok. Você vai comigo, meu amor. Mas tem que trocar de roupa. Mamãe está toda arrumada, vê? Você também tem que estar. Não tenha pressa. Eu lhe espero. Eu não vou a lugar algum sem você. Ele sorriu. Iria embora com ela. Não importava para onde. Ele iria com ela. Ele se arrumou rápido, mas caprichosamente. Tinha que estar tão arrumado quanto sua mãe. Tão lindo quanto ela estava! De repente, voltou, gritando, preocupado. Mamãe, eu também tenho que levar minhas coisas! Meus brinquedos! E agora? Tem espaço na sua mala? Era uma criança. Para ele não importava roupas, mas, sim, seus brinquedos. Mamãe? Onde tem outra mala? Mamãe? Ela não estava mais na sala. Partiu. Sem ele. Eu não vou a lugar algum sem você. Pois foi. Aproveitou sua distração e saiu escondida, para bem longe dali. E ele correu. Tentou achá-la. Foi para a rua. Chorava, soluçava, gritava. Mamãe! Um carro quase o acertou. Crianças não lembram que tem que olhar para os lados antes de atravessar a rua. Ele só queria encontrá-la. A cena, de repente, rebobina. Volta no tempo. Ele não é mais a criança abandonada pela mãe. Ele é o mesmo adulto de hoje. Arrumado com seu melhor paletó. Esperando por uma mulher. Ela aparece com uma mala na mão. A mesma mulher. Ou outra diferente. Não importa. O que ele quer é a mala. Não ela. Ele corre desesperadamente em direção a ela. Tenta entrar na mala que ela segura em suas mãos, mas não consegue. Ela é muito pequena para ele que é tão grande. Se ao menos ainda fosse a criança de alguns minutos atrás, bastaria jogar as roupas que facilmente entraria. Aquela mala não levava nada dentro, mas ainda assim não o suportava. A mulher, então, gritava. Não dá! Não adianta tentar! Mas ele não a ouvia. Tem que dar! Eu tenho que entrar! Eu não posso ser abandonado novamente! E, de repente, ele abria os olhos. Acordava do pesadelo com o corpo suado. Suas roupas molhadas.
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Ele sentia a mesma dor no peito que a criança mencionou. Nem vestido com seu melhor paletó, ela o quis. Nem deu tempo de dizer nada a ela. Talvez já esperasse o que sempre ocorria. Ela sempre o abandonava, mesmo vestido com seu melhor traje. Ele não foi o bastante para ela. Sabia disso. Estava quebrado. Era igual ao brinquedo quebrado que abandonara quando criança. Independente do que fazia, ela sempre partia sozinha. Por que você não quer me levar? Você não me ama? Mamãe, por que você não me quer mais?
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E ela chorava todos os dias. O mesmo pesadelo que o atormentava também a dilacerava. Ela também o tinha todas as noites e mesmo assim nunca voltara para pedir perdão. Ela não o merecera. Ela o enganou. Traumatizou seu coração. Ela não nasceu para ser mãe.
posted by mente inconstante at 23:09
6 Comments:
Quase chorei lendo esse texto!!!
Lindo como sempre...
Bjs
Sério, eu quase chorei também...
Como você conseguiu expressar tantos sentimentos, tanta coisa em um post? Palavras...
Me apaixonei!
;*
que lindo *-* cara, eu sempre gamo nas coisas que você escreve RS Tá perfeitudo esse texto também (:
ah sim, feliz Dia Internacional da Mulher o/
obg pela visita ;***
... eu começei a ler, mas achei triste do inicio. rs rs.
eu não quero ler mais coisas tristes, apenas quero escrever a felicidade.
LINDO <2
AI UNS DO MELHORES *-*
AMEIIIIIII *-*
Nossa sem palavras,simplesmente lindo!
Vanessa mandei um e-mail pra ti falando do nosso blog,dá uma olhadinha lá.
Beijo
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