Apenas por pessoas de alma já formada

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Não-nada-zero-nem-um-pouco-acredite-nem-um-pouco-sóbria

Eu estava meio alta. Ele, provavelmente, notou meu estado de imediato, mas, antes das explicações, vamos aos fatos. Ao porquê de eu ter bebido todas naquela noite.
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Eu estava irritada. O sumiço do Alê me incomodava. Não saber qual o motivo de seu desaparecimento era o que, na verdade, mais me desagradava. Por isso, bebi mais que o normal naquela noite. (Eu, normalmente, NUNCA bebia, mas nas cenas de filmes, novelas, reality shows etc, quando alguém quer afogar as mágoas é sempre essa a solução, então eu resolvi fazer da bebida a minha solução também.)
Poucas horas antes de ir de encontro à minha solução (um bar com muita bebida), a situação piorou. Eu descobri o motivo do sumiço do Alê: ele estava com alguém. Na verdade, eu não descobri. Apenas aumentei minhas desconfianças (que já andavam bem grandes) e como intuição feminina é uma droga viciante que raras vezes erra. Daí minha atitude naquela noite. Eu afoguei todas minhas desconfianças naquele bar. Droga de coração! Burro, burro, burro! E foi lá, em uma mesa de bar, que eu o encontrei. Não o Alê. O amigo dele: Fernando. Ele provavelmente notou meu estado de imediato. Eu estava alegre demais para alguém sóbria.
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- Ele disse que não gostou do seu beijo.
- O Alê disse que eu beijo mal?? – eu distorci suas palavras.
- Ele não chegou a dizer isso... – mas deu a entender, não deu? Eu fiquei calada. Não pude dizer nada. Eu também não tinha gostado do nosso beijo. – Você não vai falar nada em sua defesa? – o Fernando parecia querer que eu o provasse do contrário. "Um beijo para me fazer acreditar que ele estava mentindo", eu quase pude ouvir de seus lábios. Talvez, fosse apenas impressão. Impressão de bêbada não conta. Ou será que conta?
- Dizer o quê? Eu também não gostei, mas eu sou chata com beijo, então... – eu não dei um beijo nele para prová-lo do contrário, nem disse nada em minha defesa também. Apenas terminei minha sentença com o que, talvez se estivesse sóbria, não teria dito. – São poucos os beijos que me tiraram o fôlego e os que tiraram viraram todos namorados. Talvez, eu beije mal mesmo. Mas eu tenho uma teoria.
- Que teoria? – ele parecia realmente interessado. E a minha diarréia verbal continuava. Eu não estava editando nada.
- Rostos pequenos, delicados demais, nunca me deram beijos de tirar o fôlego. – ele pareceu intrigado com a teoria nunca dita em voz alta antes. Foi quando a lentidão de meu estado me fez perceber que o Fernando tinha um rosto pequeno e delicado demais. Pequeno como o do Alê, porém bem mais delicado. (O Alê não tem um rosto delicado.) E assim, de repente, a situação se inverteu. Agora, era ele que parecia querer me convencer do contrário. Ele deu um longo olhar na minha direção e, quando ele mesmo percebeu seu corpo se inclinando em direção ao meu, parou, olhando compenetradamente para a garrafa de cerva em suas mãos. A conversa fluía melhor com ele do que com o Alê. Isso mesmo. Eu lembrei do Alê naquele momento. Acho que ele também um pouco antes de olhar compenetradamente para a garrafa em suas mãos. Eu voltei para o assunto que me fez beber demais:
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- Ele está saindo com alguém, não está? – o Fernando não respondeu minha pergunta, mas seus olhos pesarosos, sim. – Não precisa responder. – eu não queria ouvir a confirmação do que seus olhos já haviam me dito em silêncio. E de repente eu me vi querendo que ele me convencesse do contrário. Convencesse meu lábios que eu estava realmente errada em relação a beijos de rostos pequenos como o seu. Essa narração pode parecer confusa, mas minhas memórias estão exatamente assim, meio distorcidas. E creio que não possa fazer milagre, dando sentido a uma narração que nem a mim faz muito sentido. É um pulo. De um sentimento ao outro. O álcool distorcendo tudo. A verdade é que o Fernando era um fofo e bonito também. Eu já o achava bonito sóbria. Bêbada, então, ele devia parecer um deus greco-romano-íbero-europeu, um misto de tudo. Ele sabia manter uma conversa. Era inteligente. Tinha os traços no rosto bonitos. Só tinha um defeito: era amigo da pessoa errada. Ele era amigo do Alê. Que situação estranha seria. Se bem que o Alê parece já estar em outra (ou melhor, com outra). Só o meu coração que não estava bem com toda aquela situação. Não seria justo. Se eu tivesse cedido naquela noite, não seria nem um pouco justo com o Fernando. Eu só ficaria com ele por raiva do Alê ter encontrado a felicidade em outros braços que não o meu. Não seria justo. Se eu não estivesse bêbada, eu teria construído esse raciocínio fácil, mas eu estava bêbada, então raciocinar foi a última coisa que eu fiz.
(continua)
posted by mente inconstante at 14:00

4 Comments:

Muito obrigado por ter gostado do blog, você escreve maravilhosamente bem minha querida. O mesmo eu digo para você, é muito bom conhecer pessoas de manaus que tem o gosto pela escrita. Beijos :*

2 de julho de 2010 às 13:59  

Eu sei como é isso e jogar a culpa na bebida nunca da certo. Ficar pra descontar raiva sempre causa muitos problemas e geralmente problemas com soluções muito dificeis.

Bjus

Ps: Fiquei um tempo longe do blog. Mas to voltando aos poucos.

3 de julho de 2010 às 18:14  

Divertido, confuso, intrigante, apaixonante e etc...
Tu misturaste esses temperos na dose certa neste texto...
Amei!!!
Estou curiosa para ler a continuação...

Bjs

5 de julho de 2010 às 23:23  

Você escreve maravilhosamente bem, e seu blog é lindo! volte sempre que quiser, e ah, estou te seguindo agora. =)

Beijo :*

6 de julho de 2010 às 03:29  

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