Apenas por pessoas de alma já formada

sábado, 12 de março de 2011

Nada

Uma vez, encontrei um pássaro em meu caminho. Estava deitado sobre o chão, sem vida. Não estava sozinho. Outro pássaro o fazia companhia, embora vivo. Sim, vivo, ele fitava seu amigo amor amante irmão que fosse. E só faltavam as lágrimas escorrendo de seus olhos para que a tristeza em seu rosto se completasse. E lembro-me de ter parado ali também, porque a cena me comoveu tanto! Meu deus, era só um animal, sentindo realmente a morte de seu companheiro? Mesmo não sabendo exatamente o que o pássaro poderia estar sentindo além de tristeza (eu nunca havia perdido alguém para a morte), continuei ali admirando a cena. Observando um animal tão pequeno sentindo uma dor tão grande. Como?

nada

nada

nada

nada

nada

além de dor

vazio
Muito se passou desde essa cena. Nunca pensei que esse dia chegaria. Que eu estaria aqui tentando com tanta dificuldade descrever como um coração pode ser despedaçado em mil pequenas partes. E muito menos que você, meu amor, seria o primeiro de minha dolorosa lista. É com imenso pesar que hoje, dia 5 de março de 2011, para minha completa e total dor, anuncio: perdi a primeira batalha da minha vida para ela, a morte, e sei, agora sei, exatamente o que ele, aquele pequeno ser parado em minha frente, sentia. Ah, meu passarinho, é um vazio, não é?, que jamais será preenchido pela ausência de quem nunca mais nos fará companhia. É saber que só poderemos viver de lembranças, porque o amanhã não será mais possível. Henry, meu amor (não convem mais esconder nomes), sempre nos chamamos de amigos, irmãos, nunca de amores, amantes. Nossa história, sempre disse e repito, era constantemente interrompida. Nunca começávamos o que podíamos e queríamos. Nosso conto era sempre detido por uma força maior da qual não tínhamos o menor controle. (Não há mais amanhã, nunca houve, pessoas, o amanhã nunca houve, nem existirá mais para nós, meu amor.) Mais uma vez, essa força nos deu uma rasteira, só que dessa vez fatal. Não foi apenas um intervalo. Foi um fim. Para o que nem sequer começou. E eu não vou mais te ouvir me chamar de Vanessinha numa segunda-feira para você sempre alegre porque para você não havia um mau dia. Nem má pessoa. Você nunca via o mal em nada, nem ninguém. Por que coisas ruins acontecem com pessoas tão boas? É mesmo o que dizem não é? Que os bons se vão cedo e agora quem tem que ir sou eu. Não consigo mais conter as lágrimas, meus dedos tremem. Preciso me despedir nesse exato momento para partir em direção à minha cama nunca tão vazia sem você nela! Shalom, meu amor, shalom é tudo o que eu lhe digo, já me despedindo, embora o “adeus” temo que seja cedo. Não consigo dizê-lo ainda. Shalom, Henry. Onde quer que você esteja, você já faz parte de mim e isso ninguém poderá tirar. E eu sempre vou pensar na próxima quinta-feira (logo depois do carnaval, lembra?) que para nós nunca mais virá. Como a vida é breve! Como “em uma semana nos vemos” pode ter virado “nunca mais”? Um “para sempre” nos separa agora. Não somos nada nessa vida, fora o que fazemos. A vida é breve e em um instante acaba. E ainda voltarei aqui, amor, para escrever mais sobre você, porque sei que por um bom tempo a única coisa que me fará sentir menos o buraco negro no meio do peito é escrever sobre você. Sobre um nós que nunca se perpetuará, exceto em minhas lembranças doces de nossos momentos juntos. Dói, amor, dói muito saber que eu nunca mais tocarei suas mãos ou poderei te contar minhas mais bobas novidades. Não há nada de novo por aqui que possa superar... superar...
posted by mente inconstante at 10:21

3 Comments:

Venho aqui mais uma vez e nem sei o que dizer. Mas queria que estou aqui,mesmo longe.
A dor do passarinho era a dor mais forte que podemos ter,aquela pancada no coração que faz a gente se sentir fraco e parece que vamos aguentar tanta tristeza,tanta dor...
Isso mesmo escreva,escrever faz com que as coisas que guardamos se liberte. E quem sabe cubra um pouco do que fui tirado.
Fico aqui parada pensando o quanto somos nessa vida,e chego na frase que vc escreveu "não somos nada" nada vezes nada,a gente faz planos,imagina a vida daqui um tempo e o que acontece?a gente parte sem fazer nada. A gente poderia saber a data pra essas coisas,assim quem sabe a tristeza não fosse tão forte.
Fique bem Vanessa,qualquer coisa estamos por aqui.
Beijo

12 de março de 2011 às 19:02  

Ah...
Já senti tudo isso...
Sei o quanto dói...
Mas o tempo ajuda bastante...
Se precisar pode contar comigo...

Bjs

13 de março de 2011 às 18:40  

A dor do vazio é realmente a mais terrivel. Não sou amlehor pessoa pessoa para usar palavras quando preciso confortar alguem. Mas de qualquer forma, fica aqui o meu apoio.
Sinta-se abraçada...
Muita força pra vc, porque somente assim conseguirá superar essa dor.

14 de março de 2011 às 13:30  

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