Apenas por pessoas de alma já formada

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Impulsiva

Ouço você falar comigo de uma maneira que só conheço assim: quando estamos fora de nós mesmos. E eu, claro, não deixo por menos. Incito, gritando de volta. Já não há espaço para mais nenhuma palavra nesse cômodo. No entanto, insistimos, de teimosos que somos. E o ar fica cada vez mais pesado. Começo a perder o fôlego. Passa a ser difícil respirar. Tenho vontade de ir embora. Não vou. Por mais que eu me sinta no inferno (esquentou de repente, mesmo fazendo um frio danado lá fora), permaneço aqui, onde não quero. Para onde iria? Pego o casaco, ainda que eu tenha pleno conhecimento de que levarei um certo tempo até que o sangue pare de queimar meu rosto. Vou em direção à porta com passos largos e fortes. Quero esmurrar o chão. Abro e fecho a porta, fazendo o máximo de barulho que posso, para que ele tenha ciência de que, sim, estou indo embora. Assim que a porta bate atrás de mim, arrependo-me de ter saído. Mal desço as escadas correndo e já quero voltar. Vai dando um aperto no peito. A raiva vai cedendo espaço para outros sentimentos. Embora o orgulho não arrede o pé. Ainda está aqui. Penso em algum lugar. Qualquer lugar. Vamos. Eu não posso voltar tão cedo. Nem hoje. Nem nunca mais. Olha a raiva retornando para mim. Não. Não! Ah, que vontade de gritar. Não posso. Já estou na rua. Todos olhariam para mim e o que importa? Vou andando. Em direção a quê? Ouço buzinas de carros soando alto. Ah, que falta faz o meus fones de ouvido! Uma música calma. Melhor rock. Melhor qualquer coisa que não o barulho da rua. Alguém chama meu nome.

- Para onde você está indo?

Olho assustada. As buzinas de carros eram na verdade uma só e de um carro apenas: o nosso. Ele continua:
- Você nem pegou sua bolsa. Carteira. Dinheiro. Vamos. Entra no carro.
E eu entro. Não porque sou esquecida e não teria como ir para lugar algum nem que eu tivesse algum lugar para ir. Mas porque quero beijá-lo e quero acima de tudo que ele me leve dali. Não beijo, nem falo uma palavra sequer durante todo o trajeto, mas meu peito está mais leve. Sei que a briga já acabou, já que ele deu o primeiro passo. Meu orgulho sempre cede depois que há o primeiro passo. Dele.
posted by mente inconstante at 17:59

2 Comments:

Aah que texto!rs'
Eu li dia desses em outro blog que nosso orgulho vale ouro e se encaixa perfeitamente nesse texto.
E tudo acaba bem.
Beijo

15 de fevereiro de 2011 às 17:08  

É bem mais facil pedoar o orgulho alheio se este não fere o seu. Ceder ao seu proprio orgulho para não machucar o do proximo é que é complicado. Mas nem sempre as pessoas cedem à nós,esse é o problema.

16 de fevereiro de 2011 às 11:25  

Postar um comentário

<< Home